“Quando
evocamos a nossa adolescência, descobrimos que ela é aquele período da nossa
vida em que se abre entre nós e nós uma cisão. Raras vezes o adolescente
consegue perceber o que é uma criança e, sobretudo, não consegue fazer a
passagem da sua própria infância até onde ele está. Nesse sentido, a
adolescência é a condição não rememorativa por excelência da vida humana. É a
época em que a tolerância diminui drasticamente, em que nos perguntamos se a
vida não é um sonho. (Esta é uma pergunta que uma criança não pode fazer, pois
para ela é tudo real). E tudo nos parece vir do nada ou, pelo menos,
desejaríamos que assim fosse, que tudo viesse do nada, nós próprios gostaríamos
de ter vindo do nada, gostaríamos de ser autores da nossa vida. Está-se no coração
de uma separação, de um desajustamento essencial às regras da sobrevivência, o
que faz da adolescência a fonte de onde parecem provir todos os exercícios
críticos, formas de inadaptação que podem manter-se transformadas, mais ou
menos profundamente, e redimidas, mais ou menos profundamente, pela vida fora.”
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