sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Genealogia

 


(...)

Ninguém, mesmo que queira,

quer morrer. E, do mais, ficam-nos

vislumbres, pormenores, anotações

cujo sentido descobrimos demasiado tarde.


Não sei se a cultura ajuda. Preferia

a qualquer obra de Bach

que a música ambulante do amolador

pudesse de novo passar na infância,

na infância breve de estarmos ambos vivos,

sentados na varanda. À espera de dias

iguais, sob a alta sombra dos pinheiros.


Era isso.


Manuel de Freitas, Beau Séjour