domingo, 14 de outubro de 2012

"o vento sobre a terra"


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"robar insights"

sábado, 21 de abril de 2012

"amendoeira em flor"


sábado, 7 de abril de 2012

"Memórias de Adriano"

"A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros."

sexta-feira, 23 de março de 2012

"girl with leaves"

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Drawing

"Desenhar acalmava-te. A tua infernal caneta era um atiçador,
era como um ferro incandescente. Os objectos
sofriam para ter uma nova realidade, torturados
até alcançarem a posição definitiva. Enquanto desenhavas
sentia-me solto, tranquilo. O tempo ficou suspenso
enquanto desenhaste o mercado de Benidorm.
Sentei-me ao pé de ti, a escrevinhar qualquer coisa.
As horas passaram a arder. Os vendedores das tendas
abeiravam-se para ver se tinham ficado bem.
Estávamos sentados nuns degraus, com os nossos sapatos de corda
e éramos felizes. A nossa curiosidade de turistas
já tinha passado, conhecíamos bem o nosso caminho
nas andanças pela cidade. Éramos familiares objectos
estranhos. Quando acabou de vender as bananas,
o vendedor ofereceu-nos um solo
de violino que tocou ali mesmo num caule de bananeira.
Toda a gente nos rodeou para elogiar o teu desenho.
Continuavas a desenhar teimosamente, captando todos os detalhes,
até aprisionares toda a cena.
Ei-la. Resgataste para sempre
a nossa manhã de outro modo perdida. A tua paciência,
mordendo o lábio e de testa franzida, conseguiu fazer o retrato
de um mercado adormecido ainda
na Idade Média. Mesmo antes de desaparecer
sob a gritaria de um milhão de veraneantes
e de um penhasco de brilhantes hotéis. Enquanto a tua mão
descia por baixo de Heptonstall para ser agarrada
pela escuridão interminável. Enquanto a minha caneta viaja
apenas a duzentas milhas da tua mão,
agarrando essa recordação do teu lenço vermelho com bolas branca,
os teus calções, a tua camisola de manga curta -
Uma das trinta que carreguei comigo pela Europa -
e as tuas longas pernas, morenas, onde apoiavas o teu bloco,
e a contemplativa calma
que eu bebia da tua concentrada quietude.
É nessa contemplativa calma
que agora bebo do teu silêncio, que nenhum
de nós pode evitar ou perturbar."

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

"uma espada trespassa o coração"

..."Depois, vaguear por paisagens desertas, por cidades, pelo espaço da solidão. Não olhar o passado, apenas esse momento de silêncio e construir uma nova cidadela. Ansiar um grande vazio onde tudo é mais simples e o respirar mais vagaroso. Deixar de procurar a tempestade, que não se teme. Descansar um pouco. Repousar de tão demorada luta."


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

linha de sombra

"Só os jovens passam por momentos assim. Não quero dizer os novos demais; esses não conhecem, para falar verdade, momentos propriamente difíceis. É dado à adolescência o privilégio de viver antecipadamente os dias da sua vida na plena continuidade admirável de uma esperança ininterrupta e sem introspecções.
Deixamos fechado para trás das costas o portãozinho da infância... - e entramos num jardim encantado. As próprias sombras do jardim esplendem de promessa. A cada curva da vereda está uma nova sedução. E não é por se tratar de um país ainda por descobrir. Sabemos perfeitamente que toda a espécie humana tem corrido no leito desse caminho. Trata-se do encontro próprio de uma experiência universal, de que esperamos uma impressão rara ou íntima... - um pouco de nós mesmos.
Avança-se então, reconhecendo os marcos erguidos pelos que antes passaram por ali, avança-se excitado, divertido, acolhendo igualmente a boa sorte e a má - as pancadas e as carícias, como se costuma escrever -, o variegado destino comum que tantas possibilidades traz dentro de si para os que as saibam merecer ou, talvez, para aqueles a quem a fortuna sorri. E continua-se para diante. O tempo também continua para diante - até que avistamos, mergulhando mais fundo, uma linha de sombra que nos previne de que o país da adolescência terá igualmente que ser deixado para trás.
É neste período da vida que os momentos de que tenho estado a falar têm probabilidades maiores de acontecerem. Mas que momentos? Bem, momentos de tédio, de cansaço, de descontentamento. Momentos de precipitação. Quer dizer momentos em que o jovem tende ainda, por força da natureza, a praticar actos irreflectidos, como casar de um instante para o outro ou abandonar descuidadamente um lugar que ocupava sem ter motivo algum para o fazer."