sábado, 17 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

natureza-morta com limões

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"the destroyed room"

sábado, 9 de julho de 2011

“Quem se habituou a copiar palavras alheias não ignora que a escolha nasce de uma decisão súbita, de imediato – e tantas vezes durante quanto tempo? injustificável. É como uma chave que um dia há-de abrir alguma porta.”

quinta-feira, 23 de junho de 2011

4ª lição


«Nem tudo o que é conhecível pode ser articulado de forma proporcional. Os limites do nosso conhecimento não são definidos pelos limites da nossa linguagem. No ocidente temos uma longa tradição filosófica que promove a visão de que saber algo requer uma formulação daquilo que sabemos em palavras; precisamos de ter garantias para as nossas afirmações. Mas será mesmo verdade que o que o que não podemos afirmar, não podemos conhecer? De acordo com Michel Polanyi não. Ele fala de conhecimento tácito e diz que “nós sabemos mais do que podemos dizer”. E Dewey diz-nos que enquanto a ciência declara significado, as artes expressam significado. O significado não está limitado àquilo que pode ser afirmado. Dewey continua e diz que o estético não pode ser separado do intelectual. Para que o intelectual seja completo, ele tem que carregar o selo do estético. Ter um nariz para fazer questões e um sentimento para respostas incisivas não são metáforas sem nexo. Estas ideias não expandem apenas a nossa concepção dos modos sobre os quais nós conhecemos, mas também expandem a nossa concepção de mente. Elas apontam para fronteiras cognitivas que o nosso ensino pode explorar. Como podemos ajudar os estudantes a reconhecer os modos sobre os quais nós exprimimos e recuperamos o significado, não só nas artes mas também nas ciências? Como podemos iniciá-los na arte de fazer ciência? Apesar de tudo, a prática de alguma prática, incluindo a ciência, pode ser uma arte. Na prática, é óbvio para toda a gente que nós recorremos a uma forma expressiva de dizer aquilo que a linguagem literal nunca poderia dizer. Nós construímos santuários para exprimir a nossa gratidão para com os heróis do 11 de Setembro porque, de alguma forma, achamos as nossas palavras inadequadas. Nós recorremos à poesia quando enterramos e quando casamos. Nós estabelecemos as nossas práticas religiosas mais profundas dentro de composições que nós coreografamos. O que é que a nossa necessidade de tais práticas nos diz sobre as origens do nosso conhecimento e o que significam para a forma como educamos? Num tempo em que parecemos querer empacotar a performance em grupos padronizados limitados de capacidades, questões como estas parecem-me ser especialmente importantes. Quanto mais sentirmos a pressão para padronizar, mais necessidade temos de nos lembrar daquilo que não devemos padronizar.»


terça-feira, 21 de junho de 2011

"invisible man"

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"Há quem pense que a arte tem de ser transparente, não percebendo que a natureza da arte é ser opaca. Através da arte não se vê nada. A ideia de que se vê alguma coisa é uma ilusão consoladora. Há algo na arte que nunca será domado pelos nossos princípios. E isso, às vezes, toma formas que não conseguimos aceitar. Por exemplo, resisto inteiramente a certos artistas contemporâneos que utilizam animais em instalações. Isso faz-me lembrar o Satyricom: uma amputação real em plena peça, e quanto maior o efeito melhor. Um sinal de decadência, mas também um insuportável exagero do elemento indomável que há na arte."

terça-feira, 26 de abril de 2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

"rapariga com folha de figueira"

terça-feira, 22 de março de 2011

quinta-feira, 17 de março de 2011

Na última crónica escrita para a revista Actual, do jornal Expresso em 19 de Fevereiro de 2011.

"No próximo sábado - e por uma decisão que não foi minha - já não aparecerá aqui esta crónica semanal. Os que a procurarem encontrarão, em vez dela, uma ausência que lhes dirá a gratidão por estes anos em que olhámos as ilusões e as desilusões de um tempo que não começou ontem nem terminará amanhã. Tudo vem de mais longe e vai para mais longe do que suspeitam aqueles para quem a origem do mundo está na data do seu nascimento. A todos os que se tornaram meus leitores - e alguns, por isso, leitores do Expresso - entrego o meu reconhecimento com uma mão que acena, sabendo que uma despedida pode não ser um fim. As palavras que acabam são como os mortos que não morrem nos fantasmas em que vivem para inquietar os vivos.

Nestas crónicas, falei muito do que se fala pouco e falei pouco do que se fala muito. Falei do que é meu como se fosse dos outros e do que é dos outros como se fosse meu. Quis lembrar que, no mundo, não há só vencedores, pragmáticos, comunicadores, gestores, milionários, famosos, neoliberais, conformistas, contentinhos, poder, ruído, multidões, mais-valias, televisões, best sellers, condomínios fechados. Que há também vencidos, tímidos, desempregados, imigrantes, pobres, vagabundos, mendigos, doidos, poetas, idealistas, rebeldes, doentes, velhos, melancólicos, anarquistas, liberdade, silêncio, solidão, sabedoria, tiragens pequenas, bairros populares. Fiz da indignação uma serenidade. Recusei a crueldade que usa a máscara da eficácia. Tentei, em vez da rapidez de uma opinião, a lentidão de um pensamento. Procurei falar de uma grandeza que dá ao homem o direito a usar um nome que não o envergonhe. E sei bem de que grandeza falo, pois encontro-a nas palavras de Albert Camus: "No segredo do meu coração não me sinto em estado de humildade senão perante as vidas mais pobres ou as grandes aventuras do espírito humano. Entre as duas, encontra-se hoje uma sociedade que dá vontade de rir."

Este é o mundo que fez de "A Sociedade do Espectáculo" (Guy Debord) o seu livro de estilo: "Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção anuncia-se como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido afastou-se numa representação". Nele, o cronista é um Fernão Lopes da sua perplexidade. Hoje, o jornalismo vive sobre o abismo, e ter disso a incómoda consciência é prevenir a queda nele. Mas há os que desviam o olhar do chão que lhes foge debaixo dos pés, avançando numa fuga para a frente de que ficará apenas o rasto de um desastre que lhes parece um êxito.

Ganharíamos em conhecer melhor a geologia do jornalismo contemporâneo, esse poder-espetáculo que afirma tantas vezes a liberdade para melhor a negar. Lucraríamos em não ignorar o que está debaixo do terreno movediço onde ele firma a sua autoridade e sacraliza a sua missão. Seria útil analisarmos as condições em que o jornalismo produz o seu discurso de verdade, com que se justifica e enaltece, fundando uma teologia da qual é o deus menor. Seria bom avaliarmos a validade desse discurso e os efeitos da sua automitificação, da sua boa consciência, do seu conformismo irrequieto. Seria fundamental conhecermos os ímanes, visíveis e ocultos, que regem as atrações e repulsões no seu campo. Ficaríamos surpreendidos se alguém fizesse para a instituição jornalística o que Foucault fez para outras instituições e dispositivos de normalização social: a justiça penal, a clínica, o saber, a psiquiatria, a sexualidade. Talvez as gerações futuras olhem um dia com horror a mistura explosiva de cinismo e violência, avidez e leviandade, sobranceria e perversidade com que nos olhámos no mundo.

Neste tempo megalómano e exibicionista, em que todos procuram uma insaciada autoestima e já não parece haver lugar para a subtileza, a compaixão e a cortesia, convém mantermos o sentido da memória e da medida. Sempre soube que, em mim, para cada abundância há uma escassez. Aprendi cedo a admirar o que é grande e os que são grandes (mesmo que tenham vivido no século V antes de Cristo) para não reconhecer logo o que é pequeno. E o que vejo por aí é uma pequenez alucinada e convencida da sua grandeza inexistente. Por isso, não há melhores palavras para dizer este tempo e este modo do que as que Lampedusa deu ao príncipe de Salina: "Nós fomos os Leopardos, os Leões; os que vêm são os chacais, as hienas." É com o sangue dos outros que eles alimentam a vaidade que lhes impede de ver a vulgaridade e o vazio que os faz ser o que são.

Agora, olho o céu e a sua luz desfeita. Há um raio que entra e cai sobre a capa de um velho livro onde se fala do "amor que move o sol e as outras estrelas". E isso torna a minha vida feliz."


quarta-feira, 16 de março de 2011

“Então, rapaz, vem pintar comigo no urzal, os campos de batatas, vem galopar comigo atrás do arado e do pastor, vem comigo ver os resplendores, tomar um banho de ar puro na tempestade que sopra sobre as urzes. Vem respirar a pleno pulmão. Desconheço o porvir, se devo esperar uma mudança ou não, ou se teremos vento a favor. Mas em todo o caso não posso falar-te de outro modo. Não é em Paris, nem na América onde há que procurar; tudo é eternamente parecido em todas as partes. Mudar, sim, mas continuar a procurar no campo.”

Vicent van Gogh

Carta a Théo

Novembro de 1883